
o nazismo está de volta – mas será que algum dia foi embora?
Quando o homem mais rico do mundo faz uma saudação evidente, óbvia e escancaradamente nazista na posse do presidente eleito dos Estados Unidos da América, o país mais poderoso do mundo, sendo que o homem mais rico do mundo será um dos nomes mais importantes do governo, e considerando ainda que tudo isso está acontecendo em meio a uma aceleração dos eventos climáticos extremos, o que evidencia, sem margem para dúvidas, que estamos já em meio ao apocalipse climático, essa parece uma boa hora para entrar em desespero, certo?
Até seria uma ótima hora para se desesperar, se o desespero ajudasse em alguma coisa. Mas na verdade o desespero, além de prejudicar a busca por soluções, é desagradável para a mente e o corpo.
Descartado o desespero, portanto, o que nos resta é analisar o cenário e buscar soluções – ou ao menos o famigerado adiamento do fim do mundo.
Análise do cenário
Os nazistas estão cada vez mais à vontade para falar coisas nazistas, usar símbolos nazistas e fazer gestos nazistas. E aí quando alguém faz algo como a saudação nazi de Elon Musk, um movimento curioso ocorre nas redes sociais: uma multidão de usuários pega seus rodos virtuais e começa a passar pano freneticamente. (É importante lembrar que os donos dessas redes, incluindo o próprio Musk, têm posturas cada vez mais nazistas.)
“O Elon Musk não é nazista não, ele é autista!” “Foi um gesto de ‘meu coração com vocês!'” “O Elon Musk é aliado de Israel, como ele pode ser nazista?”
Mas os passadores de pano não contavam com o time de especialistas em nazismo que preparou o seguinte gráfico depois de um longo estudo para dirimir qualquer dúvida sobre o gesto:
Se Elon Musk e Donald Trump fossem ativistas dos direitos humanos, da paz mundial e da fraternidade entre os povos, ninguém interpretaria o gesto como nazista. Mas Musk e Trump são propagadores contumazes de discurso de ódio e de violência contra minorias. Steve Bannon, um dos ideólogos do movimento fascista internacional que toma cada vez mais corpo, fez o mesmo gesto esses dias saudando os membros do partido de extrema-direita da Alemanha que é evidentemente nazista. Esse partido é apoiado por Musk. Trump acabou de assumir e já começou a deportar imigrantes do seu país. Brasileiros chegaram algemados ao Brasil.
Essa é a essência do nazifascismo: desumanização, ódio e violência contra minorias sociais.
Se nazismo for somente ódio aos judeus, parece que tudo bem matar outros povos. E é mais ou menos essa a tônica da imprensa ocidental: massacres de asiáticos, latinos e africanos são frequentemente justificáveis. Só é nazismo um tipo de violência bem específico. Os outros tão liberados.
Li recentemente ‘Veias Abertas da América Latina’, de Eduardo Galeano, e fiquei chocado com a quantidade de massacres, mortes e sofrimento que os europeus e americanos provocaram (e continuam provocando) na América Latina. A colonização cultural nos leva a crer que o nazismo de Hitler foi a coisa mais horrível da história, como se os massacres cometidos por europeus e americanos contra outros povos não fossem tão ruins assim.
Israel acabou de massacrar a população de Gaza. Simplesmente bombardeou e queimou cidades inteiras, com as pessoas dentro, sob aplausos e/ou justificativas da imprensa ocidental. O que isso tem de diferente dos massacres cometidos por Hitler e seus asseclas?
Por isso podemos dizer que o nazismo nunca foi embora. As guerras, a dominação, a opressão e a violência contra grupos de seres humanos (grandes ou pequenos, baseados em cor de pele, geografia, sexo, não importa) existiram antes e depois da segunda guerra mundial.
Então se quisermos acabar com o nazismo de verdade, e não simplesmente fingir que a gente não gosta do Hitler, é melhor entender qual é a essência da coisa. E qual é a essência desse desejo de eliminar grupos inteiros, de causar sofrimento nos que parecem diferente de nós?
A essência do nazismo é a essência de todos os problemas da humanidade e dos seres humanos: o autocentramento.
Enquanto na nossa mente estiver incrustada a ilusão do EU separado do OUTRO, teremos problemas. Os problemas variam desde o nível básico, como a incapacidade de parar de pensar em si mesmo e a falta de atenção aos outros, até o nível de hecatombe global, com guerras, mortes e catástrofe climática, provocadas pela busca desenfreada por prazer, poder e luxo.
Buscando soluções
Nunca é um bom momento para a volta do nazismo escancarado, mas este é particularmente um mau momento, já que precisamos de um esforço de colaboração e solidariedade e atuação conjunta entre os povos inédito na história da humanidade se quisermos reverter (ou ao menos desacelerar) o processo de mudanças climáticas.
Os ricos e poderosos são especialistas em criar inimigos imaginários para que a população direcione sua revolta contra esses e esqueça dos verdadeiros problemas sociais: concentração de renda e exploração suicida dos recursos naturais.
Mas os ricos e poderosos não são os vilões, no sentido de serem intrinsecamente maus. Eles também estão presos na ilusão da separatividade; eles realmente acreditam que podem se dar bem enquanto o resto do planeta arde em chamas.
Eles e nós não percebemos a interconectividade básica da vida. Nós só respiramos porque as árvores produzem oxigênio, começa por aí. E depois tem toda a teia de recursos, alimentos, proteção, bens materiais, ecossistema, tudo dependendo da ação de incontáveis seres, humanos e não humanos.
Então precisamos perceber a interconectividade, não só reconhecer intelectualmente, mas viver conforme essa verdade profunda. E pra isso é necessário estudar os ensinamentos e meditar, com constância e fervor. Se uma pessoa consegue soltar da ilusão da separatividade, ela vira um portal para quem a encontra. Ela ajuda os outros seres a também se libertarem.
No entanto, diante do colapso já em andamento das condições de vida no planeta Terra, precisamos agir coletivamente também. Por meio da política precisamos afastar do poder as ideias nazistas e seus representantes, porque sua fixação violenta à separatividade vai acelerar nossa cavalgada para o abismo. E quando falo de política é em todos os níveis: na sua rua, no seu condomínio, no sindicato, centro estudantil, na política partidária, nas eleições, nos protestos de rua e mesmo nas redes sociais.
Participar onde nos for possível pra tentar mudar o rumo das coisas é uma ação necessária e profundamente espiritual.
Em breve certamente presenciaremos (e participaremos) de protestos massivos contra o descaso das corporações e dos governos diante da crise climática. Precisamos direcionar os esforços da humanidade, e pressionar os que detêm o poder político e econômico é bem importante.
Nós já sabemos o que precisamos fazer. Diminuir drasticamente a emissão de gases de efeito estufa. Investir em energia sustentável. Distribuir a renda. Preservar a vida e a dignidade de todos os seres que pudermos. Extirpar a ilusão do ‘eu’ e da separatividade de dentro das nossas mentes.
Ou, como ensinou o Buda: pratiquem a bondade, não criem sofrimento, dirijam a própria mente.
Mãos à obra.
Por Pedro Renato
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Treine a sua mente para viver a interconectividade de todas as coisas e seres na comunidade do Videogame Cósmico.

