
O estágio do não mais treinar
Tem umas paradas no budismo cujo nome, o mero nome, já é muito maravilhoso.
Uma delas, pra mim, é o estágio do não mais treinar.
Não é bonito?
Os budas apresentam um sem número de métodos, práticas, ensinamentos, treinamentos extensos e completos e complexos feitos sob medida para todos os seres alcançarem o nirvana definitivo, a iluminação.
E o que é o nirvana definitivo? É o estágio do não mais treinar.
Você treina, treina, treina, treina (acrescente infinitos treinas aqui porque demora algumas boas vidas)… Pra alcançar um nível em que não precisa mais treinar.
Cabou.
Já era.
C’est fini.
MAS COMO É ISSO, POR QUE NÃO PRECISA MAIS TREINAR?
O paradoxo é que a iluminação não é um estado construído pelo treinamento.
Se a iluminação fosse resultado de causas e condições, ela seria impermanente, como tudo que surge de causas e condições. Tudo que surge por certas causas e condições desaparece, porque as próprias causas e condições também desaparecem. Nada escapa da impermanência.
Ou quase nada: a iluminação não é impermanente. Alcançou, já era.
Não mais treinar.
Não é como o Cristiano Ronaldo, que treinou como um alucinado a vida inteira, e continua treinando, para ser reconhecido como o melhor jogador da história.
O que é um delírio completo, aliás, ele está muito, muito longe de gênios como Messi, Pelé, Maradona, Ronaldo e Ronaldinho.
Mas isso não importa, o que importa é que mesmo os gênios do futebol, do atletismo, as melhores jogadoras de xadrez da história, qualquer pessoa com qualquer habilidade comum, enfim, precisa treinar muito pra chegar ao auge, mas depois precisa continuar praticando pra se manter no mesmo nível, e depois de algum tempo, com a passagem dos anos, o declínio físico e mental é inevitável, e se por um milagre a pessoa se manter no auge da sua habilidade até os 98 anos de idade, a morte vem e acaba com a festa.
A iluminação é diferente.
Alcançou, já era. Não mais treinar.
Nem a morte vence a iluminação: a mente iluminada pode continuar operando mesmo após a morte do corpo físico.
A mente repousa na sua própria condição natural, o estado de buda, totalmente livre das fixações, confusões e sofrimentos
Essa é a base da mente de todos os seres.
Se é uma condição naturalmente presente – todas as mentes são livres, criam realidades infinitas e têm consciência das suas próprias criações, as características da mente búdica – o treino serve pra quê?
O treino serve pra gente aprender a soltar das fixações que causam a confusão e o sofrimento.
É só isso.
Nos esforçamos no treinamento pra estarmos aptos a reconhecer que o nosso estado natural é livre e sem angústias e sofrimentos.
Nos esforçamos pra alcançar uma condição de não esforço.
Treinar para chegar ao estágio do maravilhoso não mais treinar.
Por Pedro Renato
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